A Fé e o Império

Pois ali estava à minha espera, mão do Luís Gomes, alfarrabista, a conferência que tanto problema deu ao seu autor. Proferida em Luanda aos 28 de Junho de 1932, no âmbito da Feira de Amostras, tinha o meu exemplar [vi depois ser o 132 de uma série de 200, o que terá valor para coleccionadores de antiguidades] uma dedicatória feita pelo autor a Vasco Gama Fernandes, advogado de Leiria e que Presidente foi da Assembleia da República: «Ao Dr. Vasco da Gama Fernandes  recordação das minhas aventuras africanas».

Lia-a, pelo que nela se contém e não pela polémica em que quem a proferiu esteve envolvido com Henrique Galvão, comissário da Feira. Para quem quiser isso, há aqui [no blog Malomil] um apontamento.
A Feira estava organizada para a dilatação da Fé e do Império Colonial Português, projecto político no qual Galvão se envolveria, em união de total dedicação e oferta ao regime do Estado Novo salazarista [veja-se aqui, da Hemeroteca, esta notícia de declarações suas sobre o evento], salazarismo que Vieira detestava com todas as forças de sua alma, como no-lo revela Aquilino Ribeiro num apontamento sobre a sua pessoa.
Para Vieira a oportunidade de exprimir, em exaltação poética e mística a sua ideia de Pátria e o seu ideário nacionalista.
Curioso, porém, o excerto em que exprime a sua crença e apreço pela obra da República, num momento em que precisamente, a ideia que em 1910 se inaugurara encontrava o seu ocaso, o 28 de Maio em vias de se constitucionalizar, como sucederia em 1933: «Para a nossa concepção do nacionalismo português, isto é, para a nossa consciência da Fé e do Império, pudémos nós-outros adquirir e fortificar-nos com ideias que apenas há cerca de vinte anos foram estabelecidas em Portugal. Se é evidente que a consciência nacional tanto se elevou e enrijou neste período, isto provém de um grupo admirável de ilustres Portugueses, os quais têm vindo a realizar a obra magnifica de reconstrução nacional em todos os ramos da actividade da inteligência, desde a história à filologia e à literatura, nas ciências matemáticas aplicadas aos Descobrimentos, na crítica de arte [...].»