13 Quadras

E de novo eis o sem porquê a guiar-me os passos em direcção à estante e nela achar esta edição de autor: estudos e memórias de António Manuel Couto Viana, outro quase esquecido não fora algum esforço heróico em manter dele a chama da lembrança. Nele, logo o texto inaugural é dedicado precisamente a Afonso Lopes Vieira, sobrinho neto de António Xavier Rodrigues Cordeiro, de que recebeu, por doação, a recheada livraria.
Bicho curioso pelas antiqualhas literárias, Couto Viana traz-nos Lopes Vieira no Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro, periódico fundado por Alexandre Magno Castilho e continuado, depois da morte deste por Rodrigues Cordeiro, onde em 1900, publicara um poema denominado 13 Quadras, «quase inédito» pois não terá sido reproduzido em qualquer das suas obras posteriores. Tinha-se estreado com em 1898 Para quê e no ano seguinte com  O Náufrago.
Trata-se de verso irónico, dedicado à que seria, em 1920, sua Esposa, D. Helena de Aboim. 
Lírica de enamoramento, progride do «se eu casasse contigo» ao «tu sempre Noiva, eu sempre Namorado/Sem termos nada sem sabermos nada./Tua vida seria ter amado/Minha vida seria ver-te amada», a que segue o decurso da vida, com ela o Inverno. «E teria saudades então de tudo!/Uma saudade absurda à despedida;/E arrepender-me-ia de ter sido rudo/Quando dantes dizia mal da vida».
É aqui que o verso atinge o seu momento de amargo riso: «Eu morreria; e nos jornais diriam/Que eu morrera...e que nojo agora sinto/Ao lembrar-me que lá me chamariam/O mimoso poeta, e o distinto...//No meu enterro, iriam a fingir/Pena de mim...Conheces?...são aqueles/E eu teria vontade de cuspir - Último adeus à vida - em todos eles.//Mas haviam então de consolar-te/Com as frases sabidas, e por fim/Far-te-iam esquecer com grande arte/E sem parecer diriam mal de mim».
Adivinha o leitor o desfecho: «E os dias passariam/e depois/Dir-te-iam que estavas linda e nova.../E casarias outra vez, e dos dois/Amar-se-iam sobre a minha cova!».