Uma cura de solidão


 São de facto momentos dolorosos os equívocos, ademais quando se prestam a interpretações em que a intenção maldosa aflora e, sobretudo, como o referiu Cristina Nobre na sua tese de doutoramento publicada em 2005 pela Imprensa Nacional «o horror por uma intimidade exposta».

Convidado para uma visita a Angola, a viagem acabaria ensombrada pela questão da quantificação das ajudas de custos, Envolvido na história, do lado governamental, Henrique Galvão, na altura um quadro do regime, em serviço colonial, como já escrevi aqui.

Encontrei o folheto no alfarrabista. Há um outro, de resposta, subscrito por Galvão, em edição também de autor, que não conheço. E há no espólio do escritor que a Biblioteca Municipal de Leiria conserva um outro texto da autoria de Lopes Vieira que a Censura não deixou ser publicada e não foi para proteger o visado.

A mágoa foi curada com o exílio entre a Quinta das Cortes e a casa de São Pedro de Moel, «uma cura de solidão e de higiene espiritual», nas palavras do próprio. 

E é a dor que deveras sente a que lhe roeu a alma. «Começo a escrever estas linhas com a tristeza que vê perdida a obra que ideara, com a mágoa do artista a quem arruinaram a criação espiritual, e, sobretudo, com a mais grave desolação do homem honrado, a quem a traição revolta, a selvajaria moral inspira horror», assim começa este breve texto de 31 páginas impresso em 1932.