Animais nossos amigos

Consegui-mo o Paulo Domingues, poeta, editor, alfarrabista, amante de livros. Há nele a singeleza meiga de um Guerra Junqueiro,  no seu arrebatador de inocência «Pela estrada plana, toc, toc, toc,/Guia o jumentinho uma velhinha errante/Como vão ligeiros, ambos a reboque». 
Há em Animais nossos Amigos, de Afonso Lopes Vieira, o o despojamento  e a paz pelo amor, tal São Francisco a quem o livro dedica o poema final, em que uma estrofe, na candura do seu verso é um autêntico manifesto social, quando o Santo se dirige à fera: «Eu sei porque fazes mal,/eu sei o que te consome/tu és tão mau afinal,/tu és mau - porque tens fome»
Vim aqui trazer este momento agora que a noite cresce. O exemplar que me coube tem uma dedicatória: «com um beijo da avó muita amiga, Adília Maria.»
Que infortúnios ou acasos terão atirado este livro para fora do que foi o espólio de livros - poucos, muitos, que importa, este! - daquela neta a quem fora oferecido. Tê-lo aqui, à mercê do que me venha a suceder um dia, a mim e logo a ele, é, pois, esperança de que viverá mais uns anos! «O gato, à sua janela,/ao sol, que brilha fulgindo,/vai dormindo,/vai pensando/ e vai sonhando». Noite tranquila a todos.